Salmão

Os fins-de-semana vêm sendo especialmente chatos para mim, parecem longos demais e evidenciam minha solidão num momento em que todos estão (ou deviam estar) se divertindo. Então, depois de uma noite de sexta e de um sábado inteiro, o domingo ultimamente vem me pegando cansado e triste.

Eis que, na missa desse domingo, tive uma surpresa curiosa, daquelas que parecem por acaso - se é que nas coisas de Deus existe acaso.

Costumo chegar à igreja entre 20 minutos e meia hora antes da missa. Assim, escolho meu lugar (longe de todos, lógico) e leio e medito sobre as leituras do dia - o que, durante a celebração, com o burburinho em volta, leitores péssimos e padres pouco inspirados, nem sempre se consegue.

Um tanto dispersivo, dessa vez, preocupado em disfarçar minha melancolia, terminei a Primeira Leitura e cheguei ao Salmo Responsorial. Foi como se Alguém me sacudisse pelos ombros. Li e reli o que estava escrito para ter certeza de que era aquilo mesmo. Era. E falava de mim, falava para mim (quanta pretensão!), um salmo inteiro, num domingo qualquer de agosto, voltado exclusivamente para o meu íntimo, como se "Alguém" pudesse me adivinhar, saber direitinho o que ia dentro de mim.