O pecado mora ao lado

Este é um blog religioso. Irreverente, mas religioso. Religioso, mas irreverente. Neste espaço, quero discutir a delicada questão do pecado. Não desejo lançar culpas sobre ninguém, apenas refletir sobre o assunto. Estão publicados aqui também alguns textos que produzi para O Redentor. (Carlos Eduardo Melo)

quinta-feira, outubro 19, 2006

Missa de 12 de outubro de 2005


Um ano depois, finalmente liberado
pela censura, mais um artigo censurado
Solenidade de Nossa Senhora Aparecida

Fazia muito calor, a igreja estava lotada. Dia de homenagear Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil; dia também em que o Padre comemorava 14 anos de sacerdócio; e ainda dia da Novena que marca a Festa de São Geraldo Majela. Motivos não faltavam para que essa fosse uma noite de muitas bênçãos.
Comigo, porém, acontece algo curioso. Eu prefiro as missas mais vazias, onde posso ficar quietinho, entregue às minhas orações. E assim mesmo nem sempre consigo a concentração adequada: sempre há alguém conversando, sempre há alguém que passa, sempre há alguma idéia mundana que teima em querer invadir os meus pensamentos. (Que foi? É isso. Este relato não é de nenhum santo; é de alguém que não presta, de um autêntico verme rastejante.)
O pior é que, quando não consigo a devida interiorização, aflora em mim um terrível espírito crítico. Além disso, uma garota que chegou e se instalou perto de onde eu estava detinha um poder magnético de atrair o meu olhar.
Então, logo na procissão de entrada, o paroquiano que carregava uma bandeira do Brasil mostrou-se indeciso entre simplesmente conduzir ou agitar o lábaro estrelado, com isso alternando movimentos mais e menos enérgicos conforme avançava. Depois o comentarista errou, em seguida o leitor se atrapalhou e o Padre, visivelmente emocionado, gritava como um locutor de rodeios. Como pode-se notar, não eram só anjos que voavam naquele lugar, minha atenção também vagava sem rumo certo. E mesmo o excelente coral de vozes femininas, violões afinados e um teclado na medida certa só conseguia me tornar ainda mais disperso.

As talhas vazias de nossas vidas

A Primeira Leitura, retirada do Livro de Ester, falou de uma linda mulher, com vestes de rainha, que se apresentou num palácio real e, diante do cetro estendido pelo rei em sinal de agrado por sua beleza, aproximou-se e tocou com carinho a ponta do bastão real. Pronto, brecha para pensamentos pecaminosos penetrarem em minha mente pantanosa.
No entanto, se aquela era realmente uma noite de bênçãos, não ia demorar muito mais para que elas demonstrassem seus efeitos.
O evangelho foi Jo 2,1-11. As bodas de Caná, o primeiro gesto milagroso perpretado por Jesus. Falava em mestre-sala e nessa hora eu quase ri. Mas logo em seguida, em sua homilia, o Padre mencionou um tipo de fé milagreira, movida por ações mágicas, que muitos adotam, na medida em que acham que podem fazer Deus de escravo, esperando que ele realize, e com hora marcada!, todos os seus desejos. Não era exatamente o meu caso, mas foi um sinal forte, um chamamento à minha atenção. Depois o Padre disse que ter fé é se entregar totalmente a Deus, na certeza de que ele vai realizar o melhor em nossa vida. Mas sem ficar de braços cruzados, esperando que tudo se realize sem a nossa intervenção. Porque, afinal, mesmo nas bodas de Caná, houve a atuação do mestre-sala, daqueles que estavam servindo; ninguém deixou tudo para que Jesus resolvesse. Fazer a nossa parte é fundamental para que a vontade de Deus se realize em nós.
De repente, quando percebi, a igreja estava toda escura e silenciosa; iluminados estávamos apenas Jesus e eu. E diante de nós, as talhas vazias da minha vida. Ao longe, Maria nos observava com seu olhar atento. E então eu comecei a chorar.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Oi Carlos! Vim dar uma passada por aqui. Adorei o texto...censura pra quê né? assistimos a isso diariamente. Fatos reais da vida cotidiana.
Beijos

2:19 AM  

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