O pecado mora ao lado

Este é um blog religioso. Irreverente, mas religioso. Religioso, mas irreverente. Neste espaço, quero discutir a delicada questão do pecado. Não desejo lançar culpas sobre ninguém, apenas refletir sobre o assunto. Estão publicados aqui também alguns textos que produzi para O Redentor. (Carlos Eduardo Melo)

sexta-feira, setembro 12, 2008

Triângulo amoroso


EU, ELA E O MEU AMIGO: UM TRIÂNGULO AMOROSO

Na angustiante escuridão do caminho por onde eu andava, refestelado sob o sol da Barra, várias vezes cheguei a pensar em mudar os conceitos que norteavam a minha vida, a fim de conseguir um pouco de luz, um pequeno alento que fosse, que me devolvesse a alegria de viver. Largar de vez aquela marginalidade inoperante para receber em troca a sorte de um amor tranqüilo e o merecimento de um trabalho honesto. Tantas e tantas vezes, ao longo de anos, eu pensei sobre isso.

Mas, preguiçoso, relutante, teimoso mesmo, sempre dava um jeito de barganhar, de tentar negociar, e acabava adiando aquilo que, mais do que um projeto, era um verdadeiro anseio. Eu julgava que não precisava abandonar totalmente os prazeres ociosos que me faziam feio e triste, afinal, mal ou bem, garotas não me faltavam; e, quanto ao trabalho, privado de produzir, quem perdia não era eu, assim eu acreditava, mas a humanidade.

E os anos passavam. O trabalho não vinha, mas eu não ligava. O amor não chegava, mas eu também não reclamava.

Um amigo meu, que me conhece melhor talvez do que eu mesmo, constantemente me dizia, no silêncio do meu coração:

- Eu quero te mostrar uma outra vida. Vou te apresentar a uma garota, eu acho que vocês dois têm tudo a ver. Só que tem uma coisa: você tem que mudar. Desse jeito, vivendo dessa maneira, ela não vai gostar de você.

Os ruídos do mundo não raramente se sobrepunham ao silêncio no íntimo do meu coração. Assim, eu fingia que não escutava o que meu amigo me dizia.

Meu amigo, então, viu que tinha que gritar, tinha que me sacudir para se fazer ouvir. Então me fez tremer, sem equilíbrio, no alto de uma pedra lisa e escorregadia, para mostrar que sozinho, sem ele, eu não podia.

O recado calou fundo no meu coração, mostrou claramente que, do modo como eu vinha levando a vida, além de jamais poder vir a ser apresentado àquela tal garota, mesmo a minha integridade física, minha liberdade e minha dignidade estavam correndo risco.

Medo, vergonha, agonia e desespero me fizeram aprender a lição. E, mais do que isso, fizeram eu me render finalmente ao chamado insistente daquele amigo fiel.

Convertido, regenerado, eu nunca esperei nenhuma recompensa. Bastava-me ter sido distinguido, bastava-me reconhecer a persistência, a fidelidade demonstrada por meu amigo. A paz que obtive era mais do que eu acreditava merecer.

Eis que, num belo dia, atendendo a um convite para ir a casa dele, participando de uma missa de libertação e cura na Santo Afonso, meu amigo enfim me apresentou àquela garota que ele tinha reservado para mim. Como que por acaso, ela surgiu do meu lado - justo na hora em que padre, não por coincidência meu confessor, mandou que, dois a dois, as pessoas dessem as mãos e conversassem. Ainda hoje eu me emociono ao lembrar.

Da mesma maneira que, se eu continuasse levando aquela minha vida errada de antes, com certeza essa garota não gostaria de mim, se ela chegasse mais tarde àquela missa, ou mesmo mais cedo, ou se entrasse por outra porta que não aquela onde eu estava, talvez nosso encontro nunca tivesse acontecido. Sem contar a minha resistência crônica a dar a mão a alguém na missa – não por preconceito ou nojo, mas eu sempre dava um jeito de me esquivar na hora do Pai Nosso e do Abraço da Paz. E de repente estava eu ali, de mãos dadas com outra pessoa, de quem a partir daquele momento eu nunca mais ia querer me separar.

Até hoje, perplexo, penso muito sobre isso. Mas sendo meu amigo quem é, eu me pergunto: existiria mesmo a possibilidade desse encontro não ter acontecido?
(Autor desconhecido)