O pecado mora ao lado

Este é um blog religioso. Irreverente, mas religioso. Religioso, mas irreverente. Neste espaço, quero discutir a delicada questão do pecado. Não desejo lançar culpas sobre ninguém, apenas refletir sobre o assunto. Estão publicados aqui também alguns textos que produzi para O Redentor. (Carlos Eduardo Melo)

segunda-feira, dezembro 08, 2008

Nas areias do deserto de nós mesmos



Deserto - zona árida, com precipitações atmosféricas irregulares ou escassas, vegetação inexistente ou rara, relevo formado pela alteração de determinadas rochas, e desprovida de habitantes permanentes ; ausência total de alguma coisa ; aridez (Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa)
kkkk
Uma vez o Padre Sérgio disse, naquela missa de quatro e meia, que estava atravessando um deserto existencial e pediu que todos rezássemos por ele. Não sei a que situação de deserto ele estava se referindo, mas desde esse dia essa imagem de deserto vem a mim como sendo uma travessia difícil que se empreende ao longo de determinada etapa da vida. E muito dessa dificuldade que enxergo vem das idéias de solidão e de provações, que se associam à dureza da jornada por um terreno árido e inóspito.

Sozinhos na imensidão desértica, acabamos fatalmente sendo confrontados com nós mesmos. Nossas dúvidas e nossos medos gritam e adquirem proporções monstruosas; afinal, são nossas dores mais fundas, nossas preocupações, transtornos que existem sabe-se lá há quanto tempo e que, naquele momento de fragilidade pelo rigor do percurso, afloram dolorosamente. Nessas horas, como uma espécie de reflexo cruel e impiedoso de nós mesmos, nos tornamos nosso pior inimigo.

As terríveis situações de provação que nos desafiam vêm desse confronto com um adversário que conhece perfeitamente nossas maiores fraquezas. É sempre mais fácil desistir ou buscar aquele caminho aparentemente menos duro e que tenta nos seduzir – como uma espécie de miragem provocada pelo pânico e pelo cansaço. Abatidos física e espiritualmente pela luta, estressados e com a fé abalada, clamamos então pelo imediato final da batalha. Mesmo que tenhamos que ceder, contrariar nossos princípios, nos corromper – ainda que só um pouquinho.

Se há, porém, um ponto positivo nessa fase árdua da caminhada de cada indivíduo é a chance de podermos nos encontrar com Deus – o Deus que habita nossa consciência, nosso coração, alguém que nos conhece às vezes até mais do que nós mesmos. Nesse momento, a solidão, a reclusão, o silêncio - e a busca constante por fortalecer sempre mais esse contato com Deus – tornam-se poderosos aliados. A oração constante e procurar manter-se permanentemente conectado com o divino ajudam a não se deixar enganar nem por falsos oásis nem por soluções traiçoeiras. Acreditar em Deus, enfim, é a medida da nossa fé e da nossa salvação durante o caminho.