O pecado mora ao lado

Este é um blog religioso. Irreverente, mas religioso. Religioso, mas irreverente. Neste espaço, quero discutir a delicada questão do pecado. Não desejo lançar culpas sobre ninguém, apenas refletir sobre o assunto. Estão publicados aqui também alguns textos que produzi para O Redentor. (Carlos Eduardo Melo)

quinta-feira, agosto 03, 2006

Até que a morte os separe

Mais uma vez, um texto meu, considerado irreverente, foi censurado pela cúpula do Redentor. Tudo bem. Abaixo segue o artigo na íntegra:
Está lá na Bíblia: “Entretanto, Maria se conservava do lado de fora perto do sepulcro e chorava. Chorando, inclinou-se para olhar dentro do sepulcro. Viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Eles lhe perguntaram: ‘Mulher, por que choras?’. Ela respondeu: ‘Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram’. Ditas estas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não o reconheceu. Perguntou-lhe Jesus: ‘Mulher, por que choras? Quem procuras?’. Supondo ela que fosse o jardineiro, respondeu: ‘Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar?. Disse-lhe Jesus: ‘Maria!’. Voltando-se ela, exclamou em hebraico: ‘Rabôni!’ (que quer dizer Mestre). Disse-lhe Jesus: ‘Não me retenhas, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus’. Maria Madalena correu para anunciar aos discípulos que ela tinha visto o Senhor e contou o que ele lhe tinha falado”. (Jo, 11-18).
Agora, responda: se você tivesse desaparecido, sido seqüestrado ou dado como morto, e, dias depois, voltasse, a quem gostaria de aparecer primeiro (ou quem gostaria de ver primeiro)? Seria a pessoa a quem mais ama? Ou a galera do futebol, a turma da academia ou o pessoal do escritório?
Foi com esta premissa que o jornalista e escritor espanhol, Juan Arias, que cursou teologia, filosofia, psicologia, línguas semíticas e filologia comparada na Universidade de Roma, iniciou seus trabalhos de pesquisa que resultaram no livro “Madalena, o último tabu do cristianismo”.
Obviamente, a argumentação do escritor, num momento em que tanto se discute o sacerdócio feminino e o papel da mulher na Igreja católica, é para fortalecer a teoria presente em seu livro – a de que Maria Madalena teria sido mulher de Jesus, e conseqüentemente a discípula mais amada pelo Mestre.
Como não podia deixar de ser, sobretudo nesses tempos pós-Código Da Vinci, a questão é polêmica. Há controvérsias quanto a verdadeira razão da primeira aparição de Jesus, após ressuscitar, ter sido feita a Maria Madalena. Contrariando Arias, dizem alguns cronistas que a escolha se deu por uma prosaica motivação midiática. Ah! As mulheres e seus métodos eficientes de difundir uma notícia!...
Todas essas conjecturas e suposições têm vindo à tona tendo como origem os chamados evangelhos apócrifos – textos atribuídos a Tomé, Filipe, Maria Madalena..., sem o reconhecimento oficial da Igreja Católica.
Mas cá entre nós, pensando bem, em que o diminuiria perante nossos olhos, se fosse verdade que Jesus tivesse tido uma mulher? Não pode ser considerado surpresa que um homem jovem e sábio, que respeitava a identidade feminina, com uma forte vocação para líder, com um discurso envolvente e sedutor e um olhar, segundo afirmam novamente os cronistas, expressivo e penetrante, mexa com sentimentos profundos.
Por outro lado, se Maria Madalena era uma mulher culta, de família abastada e extremamente inteligente (conforme os apócrifos), ou uma prostituta arrependida (conforme sugere a Bíblia), isso não parece tão relevante. Ou alguém supõe que um homem como Jesus não saberia escolher uma companheira?
Já se houve alguma intenção secreta, para esconder esse relacionamento amoroso de Jesus; ou se há alguma razão mal disfarçada para disseminar a crença de que ele existiu, isso nós jamais (ou pelo menos não tão cedo) saberemos.
Só vale citar, a este propósito, um pensamento de G.K. Chesterton, escritor britânico nascido no século XIX e um dos principais apologetas laicos do cristianismo: “Quando se deixa de acreditar em Deus, o grande risco não é não acreditar em mais nada. É acreditar em qualquer coisa”.