O pecado mora ao lado

Este é um blog religioso. Irreverente, mas religioso. Religioso, mas irreverente. Neste espaço, quero discutir a delicada questão do pecado. Não desejo lançar culpas sobre ninguém, apenas refletir sobre o assunto. Estão publicados aqui também alguns textos que produzi para O Redentor. (Carlos Eduardo Melo)

segunda-feira, agosto 07, 2006

Onde está Deus?


Quem tem piedade de nós?
É interessante o processo de escrever, criar, produzir um texto. Às vezes, nascida a idéia, fica ela a germinar em nossa mente, maturando, sendo gestada, como preferem alguns, até o momento que “nasce”. Aconteceu isso comigo em relação ao sermão da missa do dia 25 de junho.
Na Primeira Leitura, (Jó 38, 1,8-11), lembramos a dor de, Jó um homem bom e justo que de repente foi atingido por um vendaval de desgraças, que lhe rouba a riqueza, a família e a própria saúde. Desesperado, Jó questiona a origem do sofrimento e o papel de Deus no seu drama pessoal.
Na Segunda Leitura, (2 Cor 5,14-17), São Paulo afirma que o nosso Deus não é um Deus indiferente, que deixa os homens abandonados à sua sorte. Pelo contrário, é um Deus que intervém no mundo, que nos ama e que quer nos ensinar o caminho da vida.
Já no Evangelho, (Mc 4, 35-41), temos a experiência dos Apóstolos diante da ventania e do mar bravio, quando Jesus lhes pergunta a razão daquele medo.
As associações a serem feitas entre os três textos são bastante óbvias. Afinal, como também Jó e os Apóstolos, olhando o mundo em que vivemos, muitas vezes nós temos a sensação de estarmos sozinhos num mar agitado. E nos perguntamos: onde está Deus nos momentos de sofrimento e dificuldade que enfrentamos ao longo da nossa vida?
A ligação que eu queria fazer era sobre o período histórico denominado holocausto, acontecido durante a Segunda Guerra Mundial. O fato a que me reporto aconteceu há cerca de três meses, quando, visitando Auschwitz, o campo de concentração, situado na Polônia, o Papa Bento XVI (ele próprio um ex-membro da Juventude Nazista – o que talvez indique que o mal não estava somente em Hitler, mas no inconsciente coletivo de todo o povo alemão), diante da lembrança daqueles dias trágicos, dirigiu-se a Deus, dizendo, horrorizado: - Onde estiveste durante esse tempo? Como deixaste tudo isso Acontecer?
Pois é esta a questão: quantos de nós nunca nos dirigimos a Deus nesses mesmos termos, ante algum instante de vento e mar bravo em nossas vidas, seja morte de alguém querido ou alguma outra perda igualmente dolorosa? Quantos de nós já não concluímos, ao menos uma vez, em pleno desespero, que Deus se esqueceu da gente?
O tempo passou e não escrevi nada sobre o assunto, que certamente ficou guardado em alguma gaveta do meu cérebro, como se faltasse ainda algum elemento para completar o raciocínio, algo que detonasse o processo criativo. Eis, então, que uma amiga experimenta um violento revés e a dor dela dói demais em mim também. Nessas horas, nossa fé fica transtornada. É inevitável. E, repetindo Jó, os discípulos e o Papa Bento XVI, abatidos murmuramos: - Onde está Deus?
Como acreditar que não se está perdido, sozinho, abandonado a sua própria sorte e que Deus caminha ao nosso lado, cuidando de nós com amor de pai e nos oferecendo a cada passo vida e salvação, como nos ensinam?
É difícil não desanimar, não se desesperar. Somos fracos, a chama de nossa fé nem sempre brilha intensamente, facilmente esquecemos que, mesmo quando Jesus parece estar dormindo, ele está atento ao que estamos passando e pronto a nos socorrer.
Às vezes é tão difícil ser católico...