O pecado mora ao lado

Este é um blog religioso. Irreverente, mas religioso. Religioso, mas irreverente. Neste espaço, quero discutir a delicada questão do pecado. Não desejo lançar culpas sobre ninguém, apenas refletir sobre o assunto. Estão publicados aqui também alguns textos que produzi para O Redentor. (Carlos Eduardo Melo)

terça-feira, agosto 08, 2006

O Amor de Deus

Qual a medida da sua fé?
Trata-se de uma equação difícil. Orações, novenas, louvores, peregrinações, talvez nada disso seja importante. Como se pode então medir exatamente a extensão da fé de alguém? Mais complicado ainda somente esta outra incógnita: se nada disso vale, como se determina a verdadeira dimensão da misericórdia de Deus?
É um tempo confuso este em que estamos vivendo, sobretudo em se tratando de religiosidade. Um tempo curioso, em que uma moedinha da sorte ou sementes de romã valem mais do que o ideal de se seguir uma trajetória digna e íntegra que leve ao êxito pessoal e profissional. Um tempo triste em que o uso do escapulário desprendeu-se definitivamente da fé e virou simplesmente moda. Um tempo em que roupas com estampas de santos deixaram de ter relação exclusiva com a devoção de quem as veste. Um tempo em que Nossa Senhora Desatadora dos Nós, Santo Expedito, São Jorge e São Sebastião assumiram ares de super-heróis todo-poderosos e formaram uma espécie de Liga da Justiça, acionados constantemente por endividados, desesperados e gays, que nem sempre freqüentam as igrejas e normalmente nem seguem os ensinamentos cristãos.
É preciso se ter em mente que um terço pode ser de ouro ou de prata, que o que vale é a bênção que o torna tão santificado quanto um de matéria plástica que também tenha sido abençoado. Afinal, não é pelo tamanho ou o valor do crucifixo que se traz ao peito que se determina a extensão da fé de uma pessoa. Como também não é pela quantidade de santinhos que se distribui ao ter uma graça alcançada, nem pelo número de novenas que se faz, nem pela repetição de vezes que se benze ao passar diante de uma imagem.
Paulinho Melo, coordenador do Ensino Religioso do colégio Sion, professor de Religião do colégio Santos Anjos e um dos coordenadores da Crisma de nossa paróquia, observa que esse é um comportamento equivocado, comum mesmo entre católicos praticantes:
- Até porque, como está em Mateus 7, 21 ss, “nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus”. O compromisso, a intimidade com o Pai na oração valem mais do que se rezar dez Ave-Marias e dez Pais-Nossos todos os dias, com a cabeça pensando em outras coisas.
Agora, se é assim, se não adianta pregar, nem expulsar demônios em nome do Pai, nem dar esmolas aos pobres, se não são esses atos, nem rezas, nem ícones grandiosos que contam, cabe uma outra pergunta: o que fazer para agradar a Deus?
Essa questão é muito complexa e intrigante. Paulinho Melo lembra uma passagem que sempre menciona em cursos e palestras quando o assunto é justamente o Amor de Deus e que geralmente mexe muito com as pessoas que o ouvem:
- A morte de cruz era a pena de morte daquela época em que Jesus viveu. Somente pessoas com crimes realmente terríveis eram submetidas a ela; portanto, ao lado de Jesus no Calvário estavam dois criminosos. Pois diante do arrependimento de um deles, Jesus assegura que, logo, aquele criminoso arrependido estará ao lado dele e do Pai no Reino do Céu.
Bom, quer dizer que pode alguém bárbaro e sanguinário como, por exemplo, o Elias Maluco, assassino do jornalista Tim Lopes, ir para o céu se, no seu último suspiro, tiver se arrependido? Não é injusto isso? Como funciona então essa questão da misericórdia divina?
Paulinho Melo responde:
- A lógica de Deus é diferente da nossa. Trabalhamos com uma lógica de merecimento e Deus com uma lógica de misericórdia. Ele olha o coração, o arrependimento sincero e não somente os atos. A justiça de Deus se manifesta na medida em que o homem abre o seu coração e aceita a salvação de sua alma de forma concreta. E assim, para Deus, todos os homens são iguais. Ele não vê pobres e ricos, pretos e brancos, criminosos e pessoas de bem. Ele vê o desejo de cada um de se abrir a uma proposta de libertação, mesmo no último segundo de vida.

Será que ele é?

> Os homossexuais veneram são Sebastião como seu protetor desde a Idade Média. Em sua biografia, consta que era o soldado preferido do Imperador Diocleciano, tido pelos historiadores como bissexual. O motivo do martírio do santo, segundo alguns autores e não confirmado pela Igreja Católica, teria sido sua recusa a continuar a manter relações sexuais com Diocleciano, depois de sua conversão ao cristianismo.
(O Redentor)