O pecado mora ao lado

Este é um blog religioso. Irreverente, mas religioso. Religioso, mas irreverente. Neste espaço, quero discutir a delicada questão do pecado. Não desejo lançar culpas sobre ninguém, apenas refletir sobre o assunto. Estão publicados aqui também alguns textos que produzi para O Redentor. (Carlos Eduardo Melo)

sexta-feira, setembro 01, 2006

Aliados da putrefação moral

Desce!

Antigamente, era costume, até numa forma de expressar um pensamento positivo, solidário, para dar força ao outro, que por algum motivo estava tão arrasado que sentia ter chegado ao fundo do poço. Então se dizia: já que chegou ao fundo, agora é subir, com toda força. Se servia ou não de consolo, é discutível. Mas a profundidade do poço, o lodo viscoso no seu fundo, sempre formavam uma imagem bastante significativa.
Mas os tempos são outros, definitivamente. Hoje, por mais degradante que seja a situação, por mais baixo que o ser humano desça, não é mais surpresa descobrir que, abaixo, há ainda outra escada que leva a um subsolo, e depois outra e mais outra, mais outra, até as infinitas profundezas da indignidade, da corrupção, da degeneração moral, do aviltamento, da total depravação.
Exemplos não faltam, e o noticiário está cheio deles. Ninguém precisa falar dos escândalos nos diversos escalões do governo; dos casos de pedofilia; da falta de ética que campeia livre por todos os setores; da cruel exploração da miséria alheia... Contudo, o curioso de se observar nisso tudo é que, uns mais outros menos, é verdade, todos dizem se indignar com essa desembalada decadência da nossa sociedade. Pouquíssimos, porém, tomam alguma atitude para modificar esse quadro; cada vez mais esfacela-se a antiga idéia de comunidade, de solidariedade. A norma agora, sobretudo nos grandes centros, é o cada um por si, o se não é comigo não me interessa.

O império da mentira

Com isso, com essa desintegração do tecido social, permite-se a instalação daquilo que pode ser chamado de “O Império da Mentira” – que obviamente serve a algum propósito, como não podia deixar de ser nesses recorrentes casos de dominador e dominado.
Este podre reinado, cujo êxito em muito contribui a mídia, como uma poderosa aliada, consiste em fazer a população crer que tudo foi sempre assim. Apaga-se então a memória coletiva, desaparece a história, constrói-se um presente que melhor favoreça objetivos infames. A corrupção sempre existiu; os partidos políticos, mesmo os que antes apregoavam uma certa conduta ética, justificam suas roubalheiras com os erros dos governos anteriores. Ao invés de escandalizar por sua selvageria, difunde-se a impressão de que o crime e a maldade sempre fizeram parte da natureza humana, e que não se deve julgar ninguém tão severamente, pois um dia pode-se vir também a ser julgado.
Forma-se deste modo uma tênue idéia de cumplicidade entre os indivíduos e, nesse contexto pré-fabricado, a impunidade impede qualquer contestação.
Certamente há algum intuito por trás dessa manobra de dominação. Não se organiza tão habilmente a ignorância, forjando débeis grades curriculares ou criando legiões de incapazes, dependentes das esmolas distribuídas em forma de benesses sem que haja um forte interesse escuso.
As evidências nesse sentido são bastante evidentes. Mas investigar as razões que norteiam essa conduta é ir na contramão de tudo o que nos é imposto, é contrapor o caixa 2, a bandalha, a propina, o jeitinho, o estelionato político, percorrendo perigosamente meandros obscuros e pantanosos da realidade nacional.
De qualquer modo, como nos bons romances de mistério, fica a pista. A quem pode interessar manter essa via de tão acentuado declive moral e espiritual? Quem ganha, afinal, com essa vertiginosa trajetória rumo aos sórdidos porões da existência humana?