O pecado mora ao lado
Este é um blog religioso. Irreverente, mas religioso. Religioso, mas irreverente. Neste espaço, quero discutir a delicada questão do pecado. Não desejo lançar culpas sobre ninguém, apenas refletir sobre o assunto. Estão publicados aqui também alguns textos que produzi para O Redentor. (Carlos Eduardo Melo)
quarta-feira, setembro 27, 2006
terça-feira, setembro 26, 2006
Uma breve consideração sobre o matrimônio
Os noivos escolhem a igreja mais bonita para casar. Apesar da enorme procura, conseguem uma data bem próxima daquela que gostariam. Chamam o padre preferido do casal, que naquela altura da vida já estava noutra paróquia e até noutra cidade. Depois de muita pesquisa, a noiva escolhe o modelo de vestido mais lindo. Contrata a costureira, faz inúmeras provas antes da roupa enfim ficar pronta. Chega o esperado dia. O noivo está de meio-fraque preto, com gravata cor de prata. Quatro casais de padrinhos para cada um. Os homens também de meio-fraque e gravatas prateadas, mas de calças cinza com risca de giz. As madrinhas de vestido longo, por sugestão da noiva, numa gradação de cores partindo do amarelo até chegar ao vermelho. O buquê que a noiva traz parece um enfeite de porcelana. A igreja está linda, toda ornamentada, lotada de convidados elegantes e sorridentes. O noivo, ansioso, espera pela entrada da futura esposa. De repente, ele recebe um telefonema urgente. Um detalhe fugira do controle dos organizadores da festa. Os fotógrafos e cinegrafistas estavam em greve. Não haveria ninguém para fotografar e filmar o casamento. E agora? O que fazer? Casar assim mesmo, sem nenhum registro para a posteridade dos álbuns e dos vídeos? Ou adiar o casamento?
A questão que se coloca é esta: afinal, por que se casa na igreja, com todo luxo, requinte e bom gosto? É pelo sacramento ou apenas pelas fotografias?
Evangelho segundo São Marcos
Estou estreando hoje um novo formato de publicação aqui no nosso blog, dividindo pela primeira vez a abordagem de um assunto com um convidado. Pretendo com isso, ao fornecer outra opinião além da minha e, assim, enriquecer o teor dos artigos. E a convidada desta estréia é a querida Angela Jascone.
Não posso deixar de comentar a liturgia deste domingo (dia 24/09). Fiquei convicta que os "pecados" se repetem, ou melhor, passam de geração para geração. Portanto somos convidados a rever nossas atitudes e tentar mudar, pois Jesus não condenou o desejo autêntico de querer ser melhor. ELE disse: "Quem quiser ser o melhor, seja o servo de todos". Com essa frase Jesus dá um NÂO ao egoísmo, à vaidade desmedida de quem não aproveita suas potencialidades para praticar o bem e beneficiar outros irmãos. A grandeza do ser humano está ligada ao bem que realiza, ao AMOR que ele pode e deve cultivar, sem diferençar, nem excluir ninguém e, principalmente, sem julgar.
Que Deus nos livre da mesquinharia, de querer ser melhor ou maior do que o irmão de caminhada. Isso não faz parte dos planos de Deus para seus filhos amados. (Angela Jascone)
*
Primeiro, para não fugir do tema do evangelho de São Marcos, recordo uma vez em que tentei por em prática o que havia sido me ensinado na última aula de catecismo e acabei me dando mal. Era uma festa de aniversário de uma vizinha e ela havia ganhado de presente um boneco, um robô cheio de efeitos. Como a criançada toda queria brincar um pouco com o presente, foi estabelecida uma ordem, cada um brincaria com o robô por dois minutos. A disputa pela primazia de ser o primeiro, ou pelo menos um dos primeiros, já que éramos uns dez, foi acirrada. Com os ensinamentos da aula de quinta-feira ainda fresquinhos na cabeça, resolvi me posicionar no fim da fila. Afinal, se desejava ser o primeiro, devia ser o último. Resultado: quando faltavam cinco crianças para chegar a minha vez, houve uma briga na fila e os pais da menina intervieram e acabaram com a brincadeira, para a minha completa decepção.
Outro acontecimento que me recordo foi uma aula sobre pecado, o que seria e o que não seria pecado. Fui consumido pela dor da culpa quando a catequista disse que colar na escola era pecado. Eu, que me orgulhava de ter criado um método que as professoras ainda não conheciam, de pedir e passar cola escrevendo na borracha, fui naquele instante lançado ao fogo do inferno.
O que quero dizer com tudo isso é sobre a forma como os valores devem ser passados à criança, seja numa aula de catecismo, na escola ou mesmo em casa. Não se deve colar não porque é pecado; deve-se estudar para não precisar colar. Além disso, furar fila também não é correto, mas antes de escolher ocupar, por vontade própria, o último lugar, avalie bem suas chances de, em posição tão desfavorável, conseguir chegar a ser atendido.
terça-feira, setembro 19, 2006
Mulheres no altar
Aqui mesmo em nossa paróquia não seria tão difícil escalar 11 mulheres de reputação ilibada, notável saber teológico e extensa lista de ações de caridade e em favor do bem-comum. Nenhuma delas, porém, pode almejar, um dia, tornar-se uma sacerdotisa, ao menos da Igreja Católica Apostólica Romana. Por que isso continua prevalecendo, em pleno século XXI? Conjecturando, talvez tenha a ver com a questão da maternidade - ainda hoje, tempo de mulheres livres e emancipadas, a mãe (ou seria o filho?) de todos os sonhos femininos - questão impossível de conciliar com os votos de castidade. E, bom, aí já estaremos entrando noutro campo igualmente complicado, que é o celibato.
Mas ou será que não é nada disso?
- Não, não é exatamente isso. O que acontece é que, a partir do momento em que Jesus escolheu doze homens para dar continuidade à sua missão, estava iniciando uma tradição de dois mil anos, que continua até os dias de hoje com os padres. Esse é o motivo pelo qual a Igreja não aceita a ordenação de mulheres. Os padres continuam seguindo as ordens de Jesus, de perdoar os pecados, batizar e de estar à frente da própria Igreja.
Então não tem nada a ver com a hora da novela?
- Não. Na época de Jesus, essa escolha deu-se dentro de um contexto social, em que não era reservado às mulheres esse tipo de função. Nos dias de hoje, porém, elas ocupam posição de destaque, tendo fundado importantes congregações. Convém lembrar que, mesmo oficialmente não ocupando cargos no grupo em que Jesus formou, as mulheres sempre mereceram dele uma atenção especial – explica Paulinho Melo, formado em Teologia e professor de Religião do colégio Sion.
Pegando uma carona no Dia Internacional da Mulher, comemorado no dia 8 de março, levantamos alguns pontos sobre o assunto, que, esperamos, possam suscitar saudáveis discussões (Não fofocas. E nem durante as missas, por favor). Vale até tentar você fazer a sua lista das 11 titulares desse time imaginário.
Que as mulheres ocupam, hoje, lugares destacados em nossa sociedade, ninguém contesta. Mas como seria uma missa celebrada por uma sacerdotisa?
- Não ia dar certo. Se padre bonitão atrai a mulherada, como ia ser se a sacerdotisa fosse a maior gata? Invejosas como elas são, a maioria ia chiar e inventar fofoca, nunca os avisos paroquiais seriam tão quentes – dispara Oscar L. Alves, após a missa das 18 horas, soltando uma risada. - Sem contar que ia ser difícil pra elas guardar um segredo de confissão, né?
Maldade do paroquiano. Mas seguindo essa linha de raciocínio, dá para imaginar como seria uma típica sacerdotisa? Será que ela usaria uma minibatina no estilo pretinho básico? E se estivesse com TPM, como seria sua homilia?
Enfim, se a questão é de tradição, parece que qualquer mudança vai demorar. Então, para a mulher conseguir ter algum destaque na hierarquia da Igreja só se quiser ser mula-sem-cabeça.
Na verdade, este é um assunto em que cabem muitas argumentações e ninguém pretende que se encerre aqui. Afinal, por que há beatas e santas e nenhuma delas foi sacerdotisa, se nem todo padre é santo? Ou alguém duvida que Irmã Paulina, Madre Tereza de Calcutá e Santa Tereza D’Ávila teriam sido excelentes sacerdotisas?
sexta-feira, setembro 01, 2006
Questões
Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Estas são as três perguntas básicas, cujas respostas põem em campos diferentes filósofos, cientistas e religiosos.
A questão é física ou metafísica?
Se o corpo é uma “cópia” da alma, como defendem alguns, com a morte do nosso corpo, para onde vai a nossa alma?
E onde estava ela antes de nascermos (ou adquirirmos esse corpo)?
É possível conversar com os mortos, como as novelas ultimamente vêm tentando fazer com que os espectadores acreditem?
Realismo fantástico à parte, pode um morto interagir com o mundo real?
Por outro lado, obter um milagre por meio da intercessão de um santo é uma forma de comunicação com um morto?
E tem mais.
As agências de notícias informam que, atualmente, alguns estudiosos lutam para que a tese do "Design Inteligente" seja ensinada nas escolas como uma alternativa científica à evolução. O movimento do “Design Inteligente” não afirma que este designer é Deus; mesmo assim, os opositores da teoria vêem nesses esforços uma tentativa inaceitável de colocar Deus nas aulas de ciências, quando esses momentos deveriam tratar apenas do conhecimento empírico.
O assunto é polêmico. Mas afinal, qual a teoria está certa, a de Darwin ou a da bíblia? Adão e Eva ou macacos?
E aí?
Bem, parece que enquanto ninguém que tiver ido para o outro lado tenha voltado e sido entrevistado pelo Fantástico, vai-se ficar sem respostas para essas perguntas.
Nada resta fazer senão seguir em frente, encarando o futuro – esse momento que, durante o presente, será para nós sempre indeterminado.
Aliados da putrefação moral
Desce!
Antigamente, era costume, até numa forma de expressar um pensamento positivo, solidário, para dar força ao outro, que por algum motivo estava tão arrasado que sentia ter chegado ao fundo do poço. Então se dizia: já que chegou ao fundo, agora é subir, com toda força. Se servia ou não de consolo, é discutível. Mas a profundidade do poço, o lodo viscoso no seu fundo, sempre formavam uma imagem bastante significativa.
Mas os tempos são outros, definitivamente. Hoje, por mais degradante que seja a situação, por mais baixo que o ser humano desça, não é mais surpresa descobrir que, abaixo, há ainda outra escada que leva a um subsolo, e depois outra e mais outra, mais outra, até as infinitas profundezas da indignidade, da corrupção, da degeneração moral, do aviltamento, da total depravação.
Exemplos não faltam, e o noticiário está cheio deles. Ninguém precisa falar dos escândalos nos diversos escalões do governo; dos casos de pedofilia; da falta de ética que campeia livre por todos os setores; da cruel exploração da miséria alheia... Contudo, o curioso de se observar nisso tudo é que, uns mais outros menos, é verdade, todos dizem se indignar com essa desembalada decadência da nossa sociedade. Pouquíssimos, porém, tomam alguma atitude para modificar esse quadro; cada vez mais esfacela-se a antiga idéia de comunidade, de solidariedade. A norma agora, sobretudo nos grandes centros, é o cada um por si, o se não é comigo não me interessa.
O império da mentira
Este podre reinado, cujo êxito em muito contribui a mídia, como uma poderosa aliada, consiste em fazer a população crer que tudo foi sempre assim. Apaga-se então a memória coletiva, desaparece a história, constrói-se um presente que melhor favoreça objetivos infames. A corrupção sempre existiu; os partidos políticos, mesmo os que antes apregoavam uma certa conduta ética, justificam suas roubalheiras com os erros dos governos anteriores. Ao invés de escandalizar por sua selvageria, difunde-se a impressão de que o crime e a maldade sempre fizeram parte da natureza humana, e que não se deve julgar ninguém tão severamente, pois um dia pode-se vir também a ser julgado.
Forma-se deste modo uma tênue idéia de cumplicidade entre os indivíduos e, nesse contexto pré-fabricado, a impunidade impede qualquer contestação.
Certamente há algum intuito por trás dessa manobra de dominação. Não se organiza tão habilmente a ignorância, forjando débeis grades curriculares ou criando legiões de incapazes, dependentes das esmolas distribuídas em forma de benesses sem que haja um forte interesse escuso.
As evidências nesse sentido são bastante evidentes. Mas investigar as razões que norteiam essa conduta é ir na contramão de tudo o que nos é imposto, é contrapor o caixa 2, a bandalha, a propina, o jeitinho, o estelionato político, percorrendo perigosamente meandros obscuros e pantanosos da realidade nacional.
De qualquer modo, como nos bons romances de mistério, fica a pista. A quem pode interessar manter essa via de tão acentuado declive moral e espiritual? Quem ganha, afinal, com essa vertiginosa trajetória rumo aos sórdidos porões da existência humana?