O pecado mora ao lado

Este é um blog religioso. Irreverente, mas religioso. Religioso, mas irreverente. Neste espaço, quero discutir a delicada questão do pecado. Não desejo lançar culpas sobre ninguém, apenas refletir sobre o assunto. Estão publicados aqui também alguns textos que produzi para O Redentor. (Carlos Eduardo Melo)

segunda-feira, agosto 28, 2006

Mais uma piadinha (o que quer dizer...)


Um sujeito bem apessoado, de cabelos compridos, olhos claros e barba entra no ônibus e senta ao lado de uma jovem freira, excepcionalmente bonita. Impressionado com a beleza da religiosa, na maior cara-de-pau, o cara não perde tempo, pergunta se ela aceitaria um convite para sair com ele para jantar, dançar, etc...
A freirinha fica escandalizada com o atrevimento (principalmente com aquele etc. cheio de reticências e com uma piscadinha de olho das mais safadas). Imediatamente levanta, toca o sinal e desce do ônibus no ponto seguinte.
O motorista, que tinha ouvido o diálogo, fala então pro cabeludo:
- Olha, eu sei como você pode fazer pra transar com essa freira.
O sujeito fica animado, e o motorista dá a receita:
- É o seguinte: toda quarta-feira à noite ela vai ao cemitério rezar. Como você tem cabelo comprido e barba, vista uma túnica e cubra um pouco o rosto que ela vai pensar que você é Jesus. Aí então você dá uma ordem e faz com ela o que bem entender.
Na quarta-feira seguinte, lá estava o cabeludo no cemitério, esperando a freirinha. Assim que ela chega, ele sai de trás de um túmulo e diz:
- Oi! Eu sou Jesus. Ouvi todas as suas preces e elas serão atendidas. Mas antes, filhinha, você vai ter de fazer sexo comigo.
Mais rapidamente do que ele esperava, a freira concorda com o pedido. Mas faz uma ressalva, pede que seja sexo anal, pois precisa manter a virgindade. O vigarista então manda ver. Assim que termina, ele não se contém, tira a túnica, dá uma risada e diz:
- Háháháhá!... Eu sou o cara que te cantou no ônibus!
A freira tira o véu e rebate:
- Háháháhá, digo eu! Eu sou o motorista!... Vem cá, bonitão!...

quinta-feira, agosto 24, 2006

Celebrai

quarta-feira, agosto 16, 2006

1 + 1

Só porque hoje eu estou triste,
penso que seja dia de fazer graça.
A matemática de Jesus
Pedrinho era um menino de 9 anos, levado como a maioria dos meninos da sua idade. Não queria saber de estudar. Quando não estava na escola, passava o dia ou no computador ou no PS2. Era um desastre em matemática (menos um pouco em Português, Geografia e História), mas ninguém podia dizer que era burro. O menino era um assombro no GTA, no Winning Eleven, no Worms e sei lá mais em qual jogo.
Ao receber mais um boletim, o pai ficou desolado. Como não tinha nenhuma disciplina com o nome de PS2, por exemplo, as notas foram todas bastante fracas, mas sobretudo em matemática.
Preocupado, o pai não perdeu tempo. Primeiro suspendeu o uso do computador e do PS2, depois decretou duas horas por dia de estudo de matemática. O resultado foi pífio. Talvez pela falta de ritmo mental, perdida certamente com a retirada dos jogos eletrônicos, Pedrinho teve um desempenho ainda pior.
Seu pai contratou uma professora particular, para acompanhar o garoto nos estudos. A despesa em casa aumentou consideravelmente, mas os testes mostraram que, na prática, o problema persistiu.
Desesperado, como último recurso, o pai resolveu apelar para um tratamento de choque. Num sábado, pegou o menino pela mão e o levou até um colégio de padres que havia na outra rua.
- Filho, já tentei de tudo – ele disse. - Caso suas notas de matemática não melhorem, vou matricular você aqui neste internato.
Pedrinho arregalou os olhos. Imaginou como seriam seus dias naquele ambiente austero, salas grandes e mal iluminadas, tetos altos, corredores imensos e silenciosos, um enorme crucifixo, onde um impressionante Cristo sangrava abundantemente.
Na semana seguinte, o resultado dos testes surpreendeu. O menino tinha passado de 2,5 para 8,2. O pai ficou eufórico. Eufórico, mas desconfiado. Pedrinho devia ter colado de alguém, só podia ser.
Durante a semana, mesmo sem a professora particular, o menino passava horas no quarto, com a cara enfiada nos livros. Várias vezes, o pai entrara de surpresa, na tentativa de surpreendê-lo lendo algum gibi. Nada.
Vieram as provas e a nota de matemática veio ainda melhor: 9,0. O pai foi dar parabéns ao menino.
- Mas me conta, filho. Eu já tinha feito de tudo para você estudar e nunca adiantou nada. De repente, você começa a tirar só nota boa. O que houve?
O menino se encolheu, amedrontado.
- Você disse que ia me colocar naquele colégio horrível. Eu não quero.
O pai riu.
- Ah, é? Foi isso? Mas o ensino lá é muito bom...
- Não. Se eles pegaram aquele cara, bateram nele e depois pregaram ele naquele sinal de mais, só porque ele não sabia matemática, iam querer fazer a mesma coisa comigo...

domingo, agosto 13, 2006

Dia dos pais

1- Para você, bom pai é o que:
a) dá palmada;
b) dá esporro;
c) dá mesada.

2- Seu filho tem um aninho e acorda durante a noite chorando. Você:
a) cutuca a mãe dele e manda ela levantar e fazer o pestinha calar a boca, que amanhã é dia de trabalho;
b) cobre os ouvidos com o travesseiro e espera a mulher levantar;
c) levanta e cobre o rosto do chorão com o travesseiro.

3- Seu filho é adolescente e quer conversar com você sobre sexo. Você:
a) orienta o garoto sobre práticas de sexo seguro;
b) leva logo o moleque nas termas;
c) aproveita e pede a ele umas dicas.

4- Por uma dessas fatalidades da vida, seu filho não herda de você a mesma paixão clubística. Você:
a) põe o degenerado para fora de casa;
b) dá-lhe uma surra;
c) dá uma surra na mãe dele, por via das dúvidas.

5- Seu filho não gosta de estudar e passa o dia inteiro no computador. Você:
a) ameaça cortar a mesada;
b) ameaça cortar o fio do computador;
c) ameaça cortar o piru do safado.

6- Seu filho pede o carro emprestado para sair com a namorada. Você:
a) inventa uma desculpa e diz que o carro está enguiçado;
b) não empresta e manda o vagabundo ir trabalhar;
c) empresta, mas vai junto.

7- Sua filha troca de namorado a cada 15 dias. Você:
a) cogita mandá-la para um colégio interno;
b) dá sermão, se descabela, grita, chora e faz chantagem;
c) resolve entrar para o ramo do lenocínio.

8- Seu filho dorme em casa com a namorada. Você:
a) pergunta se ele usa preservativo;
b) manda ele usar preservativo;
c) espia pelo buraco da fechadura para ver se ele está usando preservativo.

9- Sua filha é homossexual. Você:
a) aceita numa boa;
b) aceita, mas se sente constrangido;
c) aproveita e pede a chuteira da sapata emprestado para bater uma bolinha com a turma.

10- Seu filho chega em casa às duas da manhã, completamente bêbado. Você:
a) dá-lhe um esporro;
b) dá-lhe um engov;
c) não faz nada, porque só chega em casa uma hora depois, mais bêbado ainda.

quinta-feira, agosto 10, 2006

Agnósticos

Da boca pra fora
Ouço algumas pessoas dizerem, enchendo a boca, com evidente orgulho, que são agnósticas. Soa tão inteligente e superior, não é verdade? Para começar, porque nem todo mundo sabe o que é isso – o que já pressupõe um preparo todo especial para captar e entender detalhes da vida que a maioria dos mortais não consegue.
Diz o Houaiss: “Agnosticismo: substantivo masculino. Rubrica: filosofia. Doutrina que reputa inacessível ou incognoscível ao entendimento humano a compreensão dos problemas propostos pela metafísica ou religião (a existência de Deus, o sentido da vida e do universo etc.), na medida em que ultrapassam o método empírico de comprovação científica”.
Quer dizer, agnóstico é aquele sujeito que não acredita em Deus, que acha que crer na existência de um Deus invisível e todo-poderoso é uma tolice própria de mentes subdesenvolvidas. Moisés e os 10 mandamentos, uma solene cascata. Maria, um absurdo. Jesus, uma fantasia. Ressurreição, uma farsa. Fome no mundo? Culpa dos governantes. Violência, corrupção? Fazem parte da natureza humana. Dízimo é tapeação. A hóstia é um embuste. Todo padre ou é pedófilo ou paquera dissimuladamente as paroquianas mais bonitinhas. Rezar, ir à missa, fazer promessas, seguir os dogmas de uma religião, acreditar em tudo isso é uma nítida demonstração de fraqueza, pois os crentes, coitados, são pessoas que não percebem a sutileza dos instrumentos utilizados pela Igreja para manipulá-los através dos séculos.
O agnóstico não tem obrigações religiosas de nenhuma espécie. Não precisa seguir códigos morais nem éticos, não precisa dar dinheiro, transa com quem quiser, casa-separa, casa-separa, casa-separa, droga-se, bebe, faz o que quer, mete-se em qualquer negociozinho desde que lhe seja vantajoso e, o melhor, não sente culpa. É cômodo, é prático, é bem mais suave - um modo de vida bem mais light, como alguns gostam de dizer.
O agóstico, esperto, está acima dessas regrinhas infantis de um catecismo chinfrim.

terça-feira, agosto 08, 2006

O Amor de Deus

Qual a medida da sua fé?
Trata-se de uma equação difícil. Orações, novenas, louvores, peregrinações, talvez nada disso seja importante. Como se pode então medir exatamente a extensão da fé de alguém? Mais complicado ainda somente esta outra incógnita: se nada disso vale, como se determina a verdadeira dimensão da misericórdia de Deus?
É um tempo confuso este em que estamos vivendo, sobretudo em se tratando de religiosidade. Um tempo curioso, em que uma moedinha da sorte ou sementes de romã valem mais do que o ideal de se seguir uma trajetória digna e íntegra que leve ao êxito pessoal e profissional. Um tempo triste em que o uso do escapulário desprendeu-se definitivamente da fé e virou simplesmente moda. Um tempo em que roupas com estampas de santos deixaram de ter relação exclusiva com a devoção de quem as veste. Um tempo em que Nossa Senhora Desatadora dos Nós, Santo Expedito, São Jorge e São Sebastião assumiram ares de super-heróis todo-poderosos e formaram uma espécie de Liga da Justiça, acionados constantemente por endividados, desesperados e gays, que nem sempre freqüentam as igrejas e normalmente nem seguem os ensinamentos cristãos.
É preciso se ter em mente que um terço pode ser de ouro ou de prata, que o que vale é a bênção que o torna tão santificado quanto um de matéria plástica que também tenha sido abençoado. Afinal, não é pelo tamanho ou o valor do crucifixo que se traz ao peito que se determina a extensão da fé de uma pessoa. Como também não é pela quantidade de santinhos que se distribui ao ter uma graça alcançada, nem pelo número de novenas que se faz, nem pela repetição de vezes que se benze ao passar diante de uma imagem.
Paulinho Melo, coordenador do Ensino Religioso do colégio Sion, professor de Religião do colégio Santos Anjos e um dos coordenadores da Crisma de nossa paróquia, observa que esse é um comportamento equivocado, comum mesmo entre católicos praticantes:
- Até porque, como está em Mateus 7, 21 ss, “nem todo aquele que me diz: Senhor, Senhor, entrará no Reino dos Céus”. O compromisso, a intimidade com o Pai na oração valem mais do que se rezar dez Ave-Marias e dez Pais-Nossos todos os dias, com a cabeça pensando em outras coisas.
Agora, se é assim, se não adianta pregar, nem expulsar demônios em nome do Pai, nem dar esmolas aos pobres, se não são esses atos, nem rezas, nem ícones grandiosos que contam, cabe uma outra pergunta: o que fazer para agradar a Deus?
Essa questão é muito complexa e intrigante. Paulinho Melo lembra uma passagem que sempre menciona em cursos e palestras quando o assunto é justamente o Amor de Deus e que geralmente mexe muito com as pessoas que o ouvem:
- A morte de cruz era a pena de morte daquela época em que Jesus viveu. Somente pessoas com crimes realmente terríveis eram submetidas a ela; portanto, ao lado de Jesus no Calvário estavam dois criminosos. Pois diante do arrependimento de um deles, Jesus assegura que, logo, aquele criminoso arrependido estará ao lado dele e do Pai no Reino do Céu.
Bom, quer dizer que pode alguém bárbaro e sanguinário como, por exemplo, o Elias Maluco, assassino do jornalista Tim Lopes, ir para o céu se, no seu último suspiro, tiver se arrependido? Não é injusto isso? Como funciona então essa questão da misericórdia divina?
Paulinho Melo responde:
- A lógica de Deus é diferente da nossa. Trabalhamos com uma lógica de merecimento e Deus com uma lógica de misericórdia. Ele olha o coração, o arrependimento sincero e não somente os atos. A justiça de Deus se manifesta na medida em que o homem abre o seu coração e aceita a salvação de sua alma de forma concreta. E assim, para Deus, todos os homens são iguais. Ele não vê pobres e ricos, pretos e brancos, criminosos e pessoas de bem. Ele vê o desejo de cada um de se abrir a uma proposta de libertação, mesmo no último segundo de vida.

Será que ele é?

> Os homossexuais veneram são Sebastião como seu protetor desde a Idade Média. Em sua biografia, consta que era o soldado preferido do Imperador Diocleciano, tido pelos historiadores como bissexual. O motivo do martírio do santo, segundo alguns autores e não confirmado pela Igreja Católica, teria sido sua recusa a continuar a manter relações sexuais com Diocleciano, depois de sua conversão ao cristianismo.
(O Redentor)

segunda-feira, agosto 07, 2006

Onde está Deus?


Quem tem piedade de nós?
É interessante o processo de escrever, criar, produzir um texto. Às vezes, nascida a idéia, fica ela a germinar em nossa mente, maturando, sendo gestada, como preferem alguns, até o momento que “nasce”. Aconteceu isso comigo em relação ao sermão da missa do dia 25 de junho.
Na Primeira Leitura, (Jó 38, 1,8-11), lembramos a dor de, Jó um homem bom e justo que de repente foi atingido por um vendaval de desgraças, que lhe rouba a riqueza, a família e a própria saúde. Desesperado, Jó questiona a origem do sofrimento e o papel de Deus no seu drama pessoal.
Na Segunda Leitura, (2 Cor 5,14-17), São Paulo afirma que o nosso Deus não é um Deus indiferente, que deixa os homens abandonados à sua sorte. Pelo contrário, é um Deus que intervém no mundo, que nos ama e que quer nos ensinar o caminho da vida.
Já no Evangelho, (Mc 4, 35-41), temos a experiência dos Apóstolos diante da ventania e do mar bravio, quando Jesus lhes pergunta a razão daquele medo.
As associações a serem feitas entre os três textos são bastante óbvias. Afinal, como também Jó e os Apóstolos, olhando o mundo em que vivemos, muitas vezes nós temos a sensação de estarmos sozinhos num mar agitado. E nos perguntamos: onde está Deus nos momentos de sofrimento e dificuldade que enfrentamos ao longo da nossa vida?
A ligação que eu queria fazer era sobre o período histórico denominado holocausto, acontecido durante a Segunda Guerra Mundial. O fato a que me reporto aconteceu há cerca de três meses, quando, visitando Auschwitz, o campo de concentração, situado na Polônia, o Papa Bento XVI (ele próprio um ex-membro da Juventude Nazista – o que talvez indique que o mal não estava somente em Hitler, mas no inconsciente coletivo de todo o povo alemão), diante da lembrança daqueles dias trágicos, dirigiu-se a Deus, dizendo, horrorizado: - Onde estiveste durante esse tempo? Como deixaste tudo isso Acontecer?
Pois é esta a questão: quantos de nós nunca nos dirigimos a Deus nesses mesmos termos, ante algum instante de vento e mar bravo em nossas vidas, seja morte de alguém querido ou alguma outra perda igualmente dolorosa? Quantos de nós já não concluímos, ao menos uma vez, em pleno desespero, que Deus se esqueceu da gente?
O tempo passou e não escrevi nada sobre o assunto, que certamente ficou guardado em alguma gaveta do meu cérebro, como se faltasse ainda algum elemento para completar o raciocínio, algo que detonasse o processo criativo. Eis, então, que uma amiga experimenta um violento revés e a dor dela dói demais em mim também. Nessas horas, nossa fé fica transtornada. É inevitável. E, repetindo Jó, os discípulos e o Papa Bento XVI, abatidos murmuramos: - Onde está Deus?
Como acreditar que não se está perdido, sozinho, abandonado a sua própria sorte e que Deus caminha ao nosso lado, cuidando de nós com amor de pai e nos oferecendo a cada passo vida e salvação, como nos ensinam?
É difícil não desanimar, não se desesperar. Somos fracos, a chama de nossa fé nem sempre brilha intensamente, facilmente esquecemos que, mesmo quando Jesus parece estar dormindo, ele está atento ao que estamos passando e pronto a nos socorrer.
Às vezes é tão difícil ser católico...

sexta-feira, agosto 04, 2006

Pedofilia


O que se esconde embaixo de uma batina

A pedofilia é um dos crimes mais odiosos que existem, pois contrapõe a inocência de uma criança com a sórdida perversão do adulto. Revolta e escandaliza ainda mais quando se descobre que foi praticada por padres, pessoas que deveriam, nem que fosse por dever profissional, ter um comportamento digno e exemplar. Além de reprimir e de punir os culpados, sem a benevolência costumeira dos religiosos, cabe à Igreja também averigüar o que leva a isso.
Toda atividade criminosa precisa de uma capa de invisibilidade para não ser descoberta. Como bandidos que agem sob a insígnia da polícia e se utilizam da farda para cometerem seus delitos, a batina também pode ser considerada uma camuflagem bastante eficiente quando pessoas supostamente acima de qualquer suspeita, sobretudo quanto a desvios de comportamento, resolvem transgredir a lei. Sem contar a covardia, trata-se de um estelionato sacramental. E, como vem se descobrindo nos últimos tempos com a repetição desse tipo de situação, tais casos não podem mais ser tratados como fatos isolados.
Lógico que não se encontram pedófilos somente nos conventos; afinal, essa é uma tara que não escolhe credo ou vocação para se manifestar. Mas tem de haver uma razão para que pervertidos dessa natureza tenham proliferado com tanta facilidade entre as comunidades de religiosos. Considerando o celibato e que o sexo é uma necessidade vital do Homem, ao se analisar o que ocorria no passado talvez se encontre uma explicação. Naquela época, para esconder preferências então consideradas aberrações, muitos homens ingressavam no seminário para que, sem a obrigação de casar, não tivessem sua opção sexual exposta a comentários em praça pública. Porém isso não explica tudo.
Portanto, a solução do problema parece ainda longe de terminar. Se, por um lado, há hoje na sociedade maior aceitação dos homossexuais, o que em tese dispensaria os sacrifícios de uma vida reliosa; por outro, está bem claro que a verdadeira origem dessa anomalia não está perfeitamente mapeada dentro do universo das características comportamentais do ser humano. Resta então vigiar e punir.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Até que a morte os separe

Mais uma vez, um texto meu, considerado irreverente, foi censurado pela cúpula do Redentor. Tudo bem. Abaixo segue o artigo na íntegra:
Está lá na Bíblia: “Entretanto, Maria se conservava do lado de fora perto do sepulcro e chorava. Chorando, inclinou-se para olhar dentro do sepulcro. Viu dois anjos vestidos de branco, sentados onde estivera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés. Eles lhe perguntaram: ‘Mulher, por que choras?’. Ela respondeu: ‘Porque levaram o meu Senhor e não sei onde o puseram’. Ditas estas palavras, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não o reconheceu. Perguntou-lhe Jesus: ‘Mulher, por que choras? Quem procuras?’. Supondo ela que fosse o jardineiro, respondeu: ‘Senhor, se tu o tiraste, dize-me onde o puseste e eu o irei buscar?. Disse-lhe Jesus: ‘Maria!’. Voltando-se ela, exclamou em hebraico: ‘Rabôni!’ (que quer dizer Mestre). Disse-lhe Jesus: ‘Não me retenhas, porque ainda não subi a meu Pai, mas vai a meus irmãos e dize-lhes: Subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus’. Maria Madalena correu para anunciar aos discípulos que ela tinha visto o Senhor e contou o que ele lhe tinha falado”. (Jo, 11-18).
Agora, responda: se você tivesse desaparecido, sido seqüestrado ou dado como morto, e, dias depois, voltasse, a quem gostaria de aparecer primeiro (ou quem gostaria de ver primeiro)? Seria a pessoa a quem mais ama? Ou a galera do futebol, a turma da academia ou o pessoal do escritório?
Foi com esta premissa que o jornalista e escritor espanhol, Juan Arias, que cursou teologia, filosofia, psicologia, línguas semíticas e filologia comparada na Universidade de Roma, iniciou seus trabalhos de pesquisa que resultaram no livro “Madalena, o último tabu do cristianismo”.
Obviamente, a argumentação do escritor, num momento em que tanto se discute o sacerdócio feminino e o papel da mulher na Igreja católica, é para fortalecer a teoria presente em seu livro – a de que Maria Madalena teria sido mulher de Jesus, e conseqüentemente a discípula mais amada pelo Mestre.
Como não podia deixar de ser, sobretudo nesses tempos pós-Código Da Vinci, a questão é polêmica. Há controvérsias quanto a verdadeira razão da primeira aparição de Jesus, após ressuscitar, ter sido feita a Maria Madalena. Contrariando Arias, dizem alguns cronistas que a escolha se deu por uma prosaica motivação midiática. Ah! As mulheres e seus métodos eficientes de difundir uma notícia!...
Todas essas conjecturas e suposições têm vindo à tona tendo como origem os chamados evangelhos apócrifos – textos atribuídos a Tomé, Filipe, Maria Madalena..., sem o reconhecimento oficial da Igreja Católica.
Mas cá entre nós, pensando bem, em que o diminuiria perante nossos olhos, se fosse verdade que Jesus tivesse tido uma mulher? Não pode ser considerado surpresa que um homem jovem e sábio, que respeitava a identidade feminina, com uma forte vocação para líder, com um discurso envolvente e sedutor e um olhar, segundo afirmam novamente os cronistas, expressivo e penetrante, mexa com sentimentos profundos.
Por outro lado, se Maria Madalena era uma mulher culta, de família abastada e extremamente inteligente (conforme os apócrifos), ou uma prostituta arrependida (conforme sugere a Bíblia), isso não parece tão relevante. Ou alguém supõe que um homem como Jesus não saberia escolher uma companheira?
Já se houve alguma intenção secreta, para esconder esse relacionamento amoroso de Jesus; ou se há alguma razão mal disfarçada para disseminar a crença de que ele existiu, isso nós jamais (ou pelo menos não tão cedo) saberemos.
Só vale citar, a este propósito, um pensamento de G.K. Chesterton, escritor britânico nascido no século XIX e um dos principais apologetas laicos do cristianismo: “Quando se deixa de acreditar em Deus, o grande risco não é não acreditar em mais nada. É acreditar em qualquer coisa”.